RIO - Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama líder religioso do Budismo, nasceu em 6 de julho de 1935, numa família de camponeses da pequena vila de Taktser, na província de Amdo, situada no nordeste do Tibete. Seu nome de batismo - que o acompanhou por pouco tempo - era Lhamo Dhondup. Isso porque, aos dois anos de idade, foi reconhecido como sendo a reencarnação de Thubten Gyatso, o 13º Dalai Lama. Os Dalai Lamas são manifestações de Avalokiteshvara ou Chenrezig, o Bodhisattva da Compaixão e patrono do Tibete, ser iluminado que adiou sua entrada no nirvana e escolheu renascer para servir à humanidadeclique para ver imagens do Dalai Lama. Tenzin Gyatso teve, ao todo, quinze irmãos, mas muitos deles morreram ainda na infância. Entre os que sobreviveram, dois também foram reconhecidos como reencarnações de lamas elevados Taktser Rinpoche e Ngari Rinpoche. "Freqüentemente me perguntam se eu realmente acredito nisto. Não é simples responder. Mas quando eu levo em conta minha experiência nesta vida atual, e dado minhas crenças budistas, eu não tenho nenhuma dificuldade em aceitar que eu estou conectado espiritualmente aos treze Dalai Lamas precedentes, a Chenrezig e ao próprio Buda", escreveu o Dalai Lama em sua autobiografia "Liberdade no Exílio", publicada no Brasil no ano de 2001. Com apenas seis anos, Tenzin Gyatso começou sua educação monástica. O currículo consistia de cinco disciplinas maiores lógica, arte e cultura tibetana, sânscrito, medicina e filosofia budista e cinco menores poesia, música, teatro, astrologia, gramática. Também estudou inglês, ciências, geografia e matemática. Formou-se com honras, aos 23 anos, recebendo o grau de Geshe Lharampa título máximo, equivalente a um Doutorado em Filosofia. Antes disso, no entanto, em 1950, com apenas 15 anos de idade, o Dalai Lama já era solicitado a assumir a completa responsabilidade política como chefe de estado e de governo, logo após a invasão chinesa do Tibete. Em 1954, ele chegou a viajar a Pequim para tentar negociar a paz com Mao Tsetung e outros líderes chineses, como Chou En-Lai e Deng Xiaoping. Em 1956, durante visita à Índia para participar das festividades do aniversário de 2500 anos de Buda, esteve presente em uma série de reuniões com Nehru, o primeiro-ministro indiano, e o permier Chou, sobre a situação do Tibete que se deteriorava rapidamente. Seus esforços para alcançar uma solução pacífica para o problema sino-tibetano, no entanto, foram frustrados pelas atrocidades praticadas pelo governo chinês no leste do Tibete, dando origem a um levante popular. O movimento de resistência se espalhou pelo país e, em 10 de Março de 1959, Lhasa, a capital do Tibete, explodiu em protestos. As manifestações exigiam que a China deixasse o Tibete, reafirmando sua independência. Quando a situação se tornou insustentável, o Dalai Lama deixou o Tibete para continuar no exílio a luta pela libertação. Disfarçado de soldado, ele conseguiu atravessar a fronteira com a Índia sem ser capturado pelos chineses e se fixou em Dharamsala, uma pequena cidade no norte da Índia. A convite do governo de Nehru, alí constituiu o governo tibetano no exílio, onde ainda permanece. Hoje há mais de 120 mil tibetanos vivendo como refugiados na Índia, Nepal, Butão e no Ocidente. Desde a invasão chinesa, o Dalai Lama já apresentou vários recursos à ONU sobre a questão tibetana. A Assembléia Geral adotou três resoluções sobre o Tibete, em 1959, 1961 e 1965. Por sua luta - sempre pela via pacífica - pelos direitos humanos no mundo, e mais especificamente no Tibete, Tenzin Gyatso recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1989. Mais tarde deixou de lutar pela independência do Tibet e passou a defender o país como 'região autônoma' da China - o que lhe permitiria conservar e viver a sua cultura e religião, consideradas 'malignas' pelo governo de Pequim.